Tim Jamieson está prestes a descolar de Tampa para Nova Iorque quando, movido por um inexplicável impulso, decide ceder o seu lugar no avião e parte à boleia até chegar a uma terra obscura onde decide trabalhar como guarda-nocturno.
Cerca de 50 páginas depois, na segunda parte do livro, e recuando uns meses, conhecemos os pais de Luke Ellis, um jovem que passa por normal, não fosse o facto de mover acidentalmente objectos sem lhes tocar e aos doze anos estar prestes a fazer os exames nacionais de admissão à universidade, tendo em vista frequentar um curso de engenharia no MIT e outro curso em inglês no Emerson, em simultâneo. Mas a vida de Luke, um génio global, cujo intelecto desmesurado lhe tem permitido, ainda assim, ter uma vida social normal com os pais que o adoram e com o seu melhor amigo, muda drasticamente quando, a meio da noite, numa rua tranquila de Minneapolis, intrusos lhe entram em casa, matam silenciosamente os pais de Luke e levam-no numa carrinha preta para o Instituto, onde acorda num quarto igual ao seu, exceptuando não ter janela.
Nos dias seguintes, Luke tenta perceber que sítio é aquele e fica a conhecer Kalisha, Nick, George, Iris, outras crianças com dons peculiares de telecinesia e telepatia, e que são tratadas de forma desumana como ratos de laboratório, com fins macabros que só gradualmente o leitor irá percebendo. Num lugar onde os adultos não têm quaisquer escrúpulos em relação ao seu trabalho, estas crianças são de tal forma reduzidas à condição de cobaias que, se colaborarem, recebem fichas para máquinas de venda automática que inclusivamente disponibilizam bebidas alcoólicas, se não colaborarem, recebem punições brutais.
Até que quando o pequeno Avery Dixon chega ao Instituto se abre uma porta, uma possibilidade de explorarem os seus dons em benefício próprio, e procurar uma saída de um lugar que existe há setenta anos de onde nunca ninguém fugiu. E Luke, uma criança que foi capturada apenas pelos seus dons cinéticos, fará uso daquilo que os seus captores menosprezaram desde o início: a sua genialidade.
Uma pequena nota: é essa genialidade de Luke, e a sua vasta cultura, que permite uma profusão de pormenores de relações intertextuais, nomeadamente com literatura e cinema, que tornam uma leitura compulsiva, como é próprio de um thriller de Stephen King, ainda mais aprazível. Como, por exemplo, na passagem em que Luke se interroga assim que chega ao Instituto: «Perguntou-se se teria enlouquecido, se flipara, como um rapaz num filme de terror escrito e realizado por M. Night Shyamalan.» (p. 76) Mas, noutra passagem do livro, o autor dá um valente piscar de olhos ao leitor, numa alusão indirecta à adaptação cinematográfica mais popular dos livros de Stephen King: «as meninas Gerda e Greta estavam especadas a olhar com olhos arregalados e assustados. Tinham as mãos dadas e seguravam bonecas iguais, tal como elas eram. Lembravam a Luke gémeas num qualquer filme antigo de terror.» (p. 182)
Numa altura em que existem tantas séries e filmes de super-heróis e mutantes e humanos com poderes, O Instituto, de Stephen King, autor publicado pela Bertrand Editora, mantém exemplarmente a verosimilhança e a sobriedade numa narrativa que não descola para “efeitos especiais” gratuitos, sendo ainda capaz de surpreender o leitor conforme se desfia o verdadeiro propósito do Instituto. O momento mais surreal do livro será, certamente, o confronto na Carolina do Sul, que está ao nível de um Tarantino.
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