Este pequeno texto (44 págs.) inédito de Lídia Jorge foi criado para a Companhia de Teatro do Algarve (ACTA) e não é um livro fácil de encontrar – parece-me aliás que não se encontra mesmo à venda. Conta a história de dois migrantes, um homem e uma mulher, um imigrante e uma emigrante de origens geográficas diversas, que se encontram junto a um aeroporto.
A autora já tinha criado um guião para teatro anteriormente, com a peça «A Maçon», levada à cena no Teatro nacional D. Maria II, em 1997.
Um texto alegórico que retrata a realidade de um país cuja população jovem e instruída saiu para procurar novas oportunidades, mesmo que depois tenham que omitir a sua verdadeira formação e corram o risco de acabar a fazer trabalho braçal, ao mesmo tempo que continua, ainda assim, a ser um porto seguro de passagem, ou de chegada, para imigrantes de outros países dos confins da Europa. Aparece mais uma vez retratado o Sul, pela forte imagem do aeroporto, ponto de partida e chegada mas terra de ninguém, vigoram os estrangeirismos de um povo-diáspora que vive na pós-modernidade e no limiar do mundo, e é basilar a imagem da mãe (e da pátria-mãe), ausente, fria ou carinhosa, mas sempre um porto de abrigo, mães essas em torno das quais gira a obra – como a autora destaca aliás na sua dedicatória. A mãe como baluarte do valor humano em tempos de corrupção, de dispersão e de perda de identidade: «A ideia de que essa mulher me iria acolher sem entraves nem reservas amachucava-me. Como iria voltar para o seu amor sem condição? Um amor tão animal, tão sagrado, tão total? Alguém que me queria sem roupa, sem saco, sem amante, sem mala, sem dinheiro, sem futuro, sem nada?» (pág. 42).
«No centro da acção de Instruções para Voar encontram-se Emil e Laura, dois desconhecidos que se cruzam num espaço de ninguém, defendendo cada um em face do outro a razão limite que os conduziu àquele lugar. Duas histórias de vida distintas, dois nómadas contemporâneos que se confrontam face ao mesmo destino, tendo permanentemente presente a figura maternal – elemento central no desenvolvimento da narrativa dramática.
Instruções para Voar é o mais recente texto de Lídia Jorge para teatro. Foi escrito a convite d’A Companhia de Teatro do Algarve (ACTA), no âmbito do Programa Pegada Cultural – Artes e Educação/Cultural Footprint Program. Encenado por Juni Dahr, actriz e encenadora da companhia norueguesa Visjoner Teater, e com cenografia de Jean-Guy Lecat, o espectáculo viria a contar com as interpretações dos actores Luís Vicente e Elisabete Martins, e a colaboração do coro dos alunos do Curso de Artes do Espectáculo da Escola Secundária Tomás Cabreira.»
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