Contra a Amazon e outros ensaios sobre a humanidade dos livros, de Jorge Carrión, com tradução de Margarida Amado Acosta, foi recentemente publicado pela Quetzal. Do autor de Livrarias, chega-nos este pequeno e precioso manifesto, com textos especialmente preparados para a edição portuguesa, que inclui uma nota de autor da edição portuguesa e onde se podem ler algumas passagens, nalguns dos ensaios, que consideram a realidade das livrarias portuguesas.

Publicado pela primeira vez, em versão online, na Jot Down Magazine, em 2017, o primeiro ensaio, que dá nome ao livro, é um manifesto, com sete pontos, contra a multinacional de Jeff Bezos em defesa dos leitores, das livrarias e das bibliotecas, em oposição ao poder crescente dos algoritmos globais, em que as sugestões das máquinas parecem sobrepor-se aos nossos próprios gostos.

“Porque, embora dependamos de ecrãs, não somos robôs. E precisamos das livrarias de cada dia para que possam continuar a gerar as cartografias de todas essas distâncias sem as quais não saberíamos encontrar o nosso lugar no mundo.” (p. 24)

Ao longo dos quase 20 textos que compõem este livro, num misto de ensaio literário e relato de viagem, onde confluem ainda entrevistas (a Alberto Manguel) e textos evocativos de autores (como Borges), Carrión visita bibliotecas (as pessoais e as coletivas, as reais e as literárias), livrarias independentes e alfarrabistas, um pouco por todo o mundo.

Um livro que se pode ler ao sabor do vento ou de uma assentada, cuja mensagem principal que perpassa à natureza variada dos ensaios é a de que ler (ler aquilo que nos apetece e não o que nos é imposto) e escrever são valiosas ferramentas de empoderamento e que o livro é não só um pilar da nossa educação como também uma fonte de inspiração e uma confirmação do futuro da nossa humanidade.

print
Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.