22/11/63, de Stephen King, regressou às livrarias no início deste ano, pela Bertrand Editora, com tradução de Ana Lourenço e Maria João Lourenço. Em sincronia com as próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, é reeditado aquele que é um dos grandes romances do mestre norte-americano do suspense. Há mesmo quem defenda que é o seu melhor livro. É certamente um romance ambicioso, cujo projecto iniciado em 1972 foi depois abandonado pelo escritor, por requerer demasiada investigação: o livro demorou 40 anos a ser escrito.

Se estão ainda na fase das resoluções de ano novo, decididos a ler mais de 52 livros este ano, aconselho vivamente este livro. São só 900 páginas, deliciosamente escritas por um dos autores mais vendidos e mais adaptados ao cinema e ao pequeno ecrã – existe aliás adaptação deste livro a mini-série, com interpretação de James Franco.

Qualquer preconceito que possam ter relativamente a Stephen King vai ruir.

Apesar do suspense, e do desfecho que esperamos ansiosamente, o livro prende a cada página, com partes em que é impossível não sorrir ou mesmo rir. Este portento de quase mil páginas demorou a Stephen King quase quarenta anos a escrever, e revisita um dos eventos mais marcantes da História recente dos Estados Unidos da América e explora o seu impacto na realidade política e social de um país dividido, em busca da sua identidade.

Jake Epping é um simples professor de inglês em Lisbon Falls, no Maine, cuja história é quase nula, a não ser por um casamento mal-sucedido com uma mulher alcoólica. Até ao dia em que Al, o proprietário de um restaurante, lhe revela a existência de um portal do tempo na despensa. Basta descer alguns degraus para entrar num admirável mundo passado. Aquele misterioso conduz diretamente a 1958, e por muitos anos que um viajante do tempo demore nessa época, ao voltar, procurando os degraus invisíveis no mesmo ponto em que saiu do futuro, percebe que no presente apenas decorreram dois minutos exactos.

Jake Epping começa por tentar salvar um dos seus ex-alunos, evitando a chacina que ele vivenciou em criança e que o deixou com marcas indeléveis, também físicas. Mas, gradualmente, desperta nele, e esse era também o grande plano de Al, a intenção de evitar um acontecimento maior…

Na mente do protagonista deste 22/11/63, começa a soar o som dos três tiros disparados a 22 de novembro de 1963 contra John F. Kennedy em Dallas, no Texas, e Jake decide que no presente não há muito a retê-lo, pelo que o plano de viajar até 1958 e demorar-se pelo passado uns anos para poder evitar uma tragédia nacional pode não ser assim tão impossível. Contudo, Jake começará a perceber como o passado é inflexível – ao contrário do maleável futuro – e parece mesmo dificultar-lhe a tarefa.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.