Jennifer Egan, escritora norte-americana que vive em Brooklyn, venceu o Prémio Pulitzer em 2011 com A Visita do Brutamontes, publicado pela Quetzal, bem como O Circo Invisível. Também pela Quetzal, saiu agora este romance A Praia de Manhattan.
É um romance denso mas que uma vez iniciada a leitura, nos arrasta para o fundo. Um romance histórico que retrata a cidade de Brooklyn durante a década de 40, entre a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente quando os Estados Unidos se encontram em guerra com os “japas”. Anna, ainda criança com quase 12 anos, acompanha o pai até uma casa junto à praia, onde ele vai falar de negócios com o mafioso Mr. Styles. Há uma forte ligação entre Eddie Kerrigan e a filha, não sendo aliás inusitado que a menina o acompanhe nestas visitas. O momento em que Anna descalça os sapatos para sentir os pés na areia fria da praia evidencia já, de alguma forma, os traços da personalidade que iremos descobrir ao longo da narrativa:
«Mr. Styles agachou-se ao lado dela, na areia, e fitou-a.
– Porque é que estás descalça? – perguntou. – Não tens frio ou estás a armar-te?» (p. 19)
Na segunda parte do livro, em que perceberemos eventualmente que Anna perdeu o pai, sem que a família saiba se ele morreu ou simplesmente saiu de casa para não regressar, fugindo ao facto de ter uma filha com deficiência profunda. Anna é agora uma jovem mulher a trabalhar no Estaleiro Naval que enfrenta a desaprovação do seu supervisor simplesmente porque, ao contrário das outras mulheres que trazem o almoço de casa, ela pede para sair.
«Anna pressentia uma ansiedade na vontade dele de nunca as perder de vista, como se raparigas à solta pelo Estaleiro Naval se pudessem dispersar como galinhas.» (p. 63)
Numa escrita elegante, por vezes poética, outras vezes narrativa e descritiva, Jennifer Egan imerge o leitor num detalhe e rigor histórico quase visual, fazendo-o apaixonar-se por Anna e perder-se com esta jovem destemida na sua vontade de se tornar a primeira e única mulher mergulhadora, enquanto a nossa heroína procura dar o seu próprio contributo para o esforço conjunto de guerra da nação, num tempo em que a mulher ainda tem muito pouca liberdade, ao mesmo tempo que tenta perceber o que aconteceu ao pai, quando volta a encontrar Mr. Styles.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.