A reler a obra O Jardim sem Limites, de Lídia Jorge (Dom Quixote), para ultimar um artigo.
Tal como a autora invoca recorrentemente, a propósito da personagem de Leonardo, o Static Man, a música de Einstein on the beach (1979), de Philip Glass, a par da alusão constante ao martelar das teclas na sua Remington, com a constante onomatopeica do clap clap clap, também eu me senti impelido, ainda mais por ser um amante da música deste compositor minimalista, a escrever exclusivamente ao som deste seu álbum. O que na verdade não é assim tão estranho, se eu confessar que Glass me acompanha e me serve de banda sonora há vários anos.
Quando me propus trabalhar a relação entre cinema e literatura, ocorreram-me diversas obras da minha escritora predilecta, como o óbvio A Costa dos Murmúrios, devido à adaptação ao grande ecrã por Teresa Cardoso, ou O Vento Assobiando nas Gruas, também extremamente visual, tendo já recebido várias propostas de uma realizadora e sido submetido a concursos, sem que depois se avance, aparentemente por falta de fundos . Contudo desde um primeiro momento que comecei a relembrar o impacto da leitura de O Jardim sem Limites sobre mim, talvez porque a recorrência de motivos na sua insistência quase obsessiva possa deixar realmente marcas no leitor, como um pulsar subliminar.
Esta é possivelmente uma das obras mais complexas da autora e que assinalou aliás a sua maturidade literária, ainda que não pareça ser a obra que mais impacto teve na crítica ou junto do público leitor. É um labirinto de múltiplas entradas, a que me interessa destacar a sua vertente metaficcional que se concretiza, também, na relação entre escrita e cinema, por diversas vias, como pretendo ilustrar no trabalho em curso…
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