Emídio e Ermelinda é o livro mais recente de Sandro William Junqueira, autor publicado pela Editorial Caminho.

Um livro que narra no fio da navalha, entre a ficção e a mentira. A prosa discorre facilmente, com leveza e graça, conforme o autor-narrador se dispõe a contar a história do seu avô.

Emídio é nome de ilusionista, de hipnotista, de diabo, de pirulito, de homem em fuga, de artista, de fura-cuecas, fura-vidas, encanta rabos.

«Um avô assim não se inventa.» (p. 121)

Emídio é nome de avô e Ermelinda é nome de avó. E é a avó quem o narrador aqui escuta, e a quem dá voz, transcrevendo os seus testemunhos, onde relembra o marido trapaceiro e traiçoeiro. Aos depoimentos juntam-se aí um sem número de fotos do álbum de família.

Ilusionismo é também o que se faz nesta narrativa que, ora direta, ora indiretamente, aponta para os perigos da ficção, para o risco de se acreditar livremente em tudo o que se conta – ou se lê. O truque é esse. Contar mentiras da melhor maneira possível para que se tornem a mais bela das verdades.

Por outro lado, há ainda ecos de memórias que melhor fosse não passarem de mentiras, como o pai a quem a guerra colonial continua a gritar aos ouvidos: «esses gritos ainda o habitam. A partir deles, ergueu um monumento cheio de silêncios.» (p. 112)

Sandro William Junqueira (1974) nasceu em Umtali, na antiga Rodésia. É escritor, encenador, professor de expressão dramática, e autor de vários projetos de promoção do livro e da leitura. Publicou, na Caminho, os romances O Caderno do Algoz, 2009, Um Piano para Cavalos Altos, 2012, No Céu Não Há Limões, 2014, finalista do Grande Prémio de Romance e Novela APE; três livros para crianças: A Cantora Deitada, 2015, A Grande Viagem do Pequeno Mi, 2016, e As Palavras Que Fugiram do Dicionário, 2018 (Vencedor do Melhor Livro Infantil-Juvenil para o Prémio Autores 2018 – SPA). Quando as Girafas Baixam o Pescoço, 2017, Nomeado Melhor Romance para o Prémio Autores 2018 – SPA, e A Sangrada Família são os seus romances anteriores.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.