Pablo d’Ors nasceu em Madrid em 1963, estudou teologia e filosofia, é escritor e sacerdote católico. Em 2014 fundou a Associação Amigos do Deserto e em 2015 foi nomeado para o Conselho Pontifício da Cultura pelo Papa Francisco. O Amigo do Deserto é a estreia do autor na Quetzal, numa belíssima edição de bolso em capa dura, que faz deste livro um companheiro ideal de viagem e de meditação.
Corre o leitor o risco de tomar o narrador pelo autor, mas a história de Pavel poderia até ser a do autor. Na linha de obras como Siddhartha, de Herman Hesse, ou de outras mais recentes, como As Oito Montanhas, de Paolo Cognetti, O Amigo do Deserto é um relato de um homem em busca de um destino que acaba por se revelar como o encontro consigo mesmo. Diz-se, aliás, na sabedoria tuaregue, que Deus criou o deserto para que os homens pudessem encontrar-se consigo mesmos.» (p. 56)
Embora a primeira parte do livro seja mais ficcionada, e um pouco mais frágil, a história desta demanda, que começa como uma excursão ao jeito do turismo de massas, tornar-se-á um tratado filosófico de como a vida por vezes nos puxa o tapete e um destino que primeiro se estranha depois se entranha. Pavel, um homem de trinta e dois anos, depara-se com um livro que o leva a querer ingressar na Associação dos Amigos do Deserto. Apesar de não se tratar de uma seita ou de uma ideologia partilhada por uma comunidade, Pavel descobre que até se ser aceite neste grupo há todo um processo, que passa, ainda assim, por deixar de lado muitas das certezas que o regem. Depois de uma viagem a Marrocos em que tudo corre mal, Pavel apenas deseja voltar a casa, até que, mais tarde, escuta o apelo do deserto, esse cenário místico cujo silêncio «único e inconfundível» permite que ressoe o essencial (p. 38), e vivencia «a coisa maior que uma viagem pode proporcionar ao viajante: o desejo de ficar, a necessidade de não voltar, o impulso – irresistível – de nascer de novo.» (p. 75).
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