Sim, sei que este não é um blogue de viagens, mas pensei… e porque não deixar aqui as minhas impressões sobre alguns dos sítios por onde passei.

Algumas impressões sobre o Japão em poucas palavras – parte 1

Confrontado com uma semana de 3 feriados, e terminadas as aulas, pensei: onde é que eu tenho mesmo de ir? E a resposta foi instantânea, até porque já tinha pensado nisto antes do trambolhão que levei em Maio e estava a pensar ir em Julho – mas depois literalmente na véspera da viagem, com tudo programado e pago, recebi a triste notícia que me fez mudar tudo para a pausa académica em julho (a única data segura que então tinha, para não perder tudo novamente).

O Japão é um país de contrastes e de extremos.

Os primeiros 2 dias podem ser um choque. Eu sei que de repente senti: não vou conseguir aguentar isto…

É um país que claramente mantém a tradição ao mesmo tempo que se abriu ao novo mundo. Os melhores sítios a visitar, até à data, e muito particularmente em Quioto, encontram-se fora das cidades, com vários comboios e autocarros de permeio – mas não há como nos enganarmos (só mesmo eu que passo a vida a perder-me).

Uma rede de transportes intrincada que se estende por centenas de quilómetros, com comboios, metros e autocarros a horas certas e a passar frequentemente. Se ficar desorientado com os mapas – e a cada pessoa que pedir informações vai receber um mapa – o mais fácil é mesmo seguir o Google Maps que indica tudo: desde o número da saída do metro até à melhor carruagem para sentar para depois fazer o transbordo para outro transporte. Se decidir pedir ajuda a alguém, também há quem finja não nos ouvir e se desvie depois de nos cumprimentar com cara assustada por serem abordados por um turista impertinente. Mas se nos dirigirmos a algum funcionário ele fará o seu melhor, mesmo que seja em japonês, para nos orientar.

Um mar de gente a andar nas ruas e estações, quase sem qualquer regra definida de sentido, mas que conseguem não se chocar, e ser altamente respeitosos para com o outro.

Se de repente parar porque vê alguém em sentido contrário, essa pessoa vai acabar por inclinar a cabeça, pedir desculpa e desviar-se. Mesmo que sejamos nós os transeuntes distraídos.

Ao entrar num autocarro a abarrotar, uma senhora de idade como me viu à espera inclinou a cabeça a dar-me passagem – quando ela era mais velha, e corria o risco de se separar das amigas que tinham entrado primeiro.

As pessoas são extremamente silenciosas. Em compensação, tudo o resto em redor fala e faz barulho. Das máquinas às lojas, dos transportes às estações, tudo tem som e os avisos são constantes. Mas as pessoas não se ouvem.

Num transporte cheio, é normal as pessoas, crianças ou adultos, estarem todas fixadas no telefone. Também há quem leia, mas é menos frequente. O certo é que não se ouve um único vídeo, uma única música, um único toque de chamada ou de mensagem. Toda a gente tem o telefone em modo silencioso e usa auscultadores. Praticamente ninguém atende uma chamada telefónica dentro de um transporte. Em 5 dias que cá estou, apenas uma vez vi um adolescente a andar pela rua com o telefone a tocar música.

É normal ver crianças mesmo muito novas a ir para a escola nas suas fardas. Seja a pé, de bicicleta ou nos transportes, elas não se intimidam e dão claramente a ideia de se sentirem seguras. E devo dizer que as crianças e jovem são amorosas.

Ninguém fuma em público, nem mesmo nas ruas – há umas pequenas salas de fumo e mesmo na rua já encontrei sítios claramente demarcados específicos para fumar.

Os japoneses adoram bonecos tanto como adoram comida, nomeadamente guloseimas. Se bem que muito criativos em pastelaria, esta não é necessariamente doce. Temos como exemplo os vários produtos à base de matcha. Por outro lado, não é assim tão frequente encontrar cafés – mas há máquinas com venda de bebidas (água, sumo, café) por todo o lado.

Não é muito correcto – embora aconteça entre os mais jovens – comprar comida ou bebida e caminhar a comer. Os restaurantes são pequenos, e muitas vezes ficamos reduzidos a um pequeno espaço a um balcão. Mas o normal é comer, a um canto, depositar tudo no lixo e seguir.

É raro encontrar um contentor de lixo nas ruas. Face à poluição, a solução foi mesmo fazer com que as pessoas passassem a serem responsáveis pelo seu desperdício e o levassem para casa. Mas claro que em sítios específicos – como os templos ou outros serviços – encontramos contentores de lixo, e sempre com vários compartimentos, para reciclagem. Até na recolha do lixo, eles são limpos – fica tudo muito bem fechado dentro de sacos, o que deixa o lixo com um ar de limpo.

É normal os hotéis terem casas de banho partilhadas e duches partilhados. Onde estou, por exemplo, os duches masculinos são na cave e os das mulheres no piso 4. Mas não temam os mais inibidos, pois é normal não se ver uma única pessoa na casa de banho. Juro que ainda não me deparei com ninguém nos duches. É como se estivesse sozinho no hotel.

Se forem a uma casa de banho pública são também extremamente limpas, mas é frequente não haver sabão, e quase de certeza que nem vai ter papel para limpar as mãos.

E as sanitas… bem, as sanitas merecem toda uma novela. Desde o tampo aquecido aos botões que limpam pela frente e pela trás, ou a água do lavatório que é aproveitada para o autoclismo, ou até mesmo o som que nos dá privacidade (nalguma emergência de evacuação mais sonora), a sorte é que não posso viajar com mala de porão ou levava uma sanita inteligente comigo.

Algumas impressões sobre o Japão em poucas palavras – Parte 1

Confrontado com uma semana de 3 feriados, e terminadas as aulas, pensei: onde é que eu tenho mesmo de ir? E a resposta foi instantânea, até porque já tinha pensado nisto antes do trambolhão que levei em Maio…

O Japão é um país de contrastes e de extremos. Os primeiros 2 dias podem ser um choque. Eu sei que de repente senti: não vou conseguir aguentar isto…

É um país que claramente mantém a tradição ao mesmo tempo que se abriu ao novo mundo. Os melhores sítios a visitar, até à data, e muito particularmente em Quioto, encontram-se fora das cidades, com vários comboios e autocarros de permeio – mas não há como nos enganarmos (só mesmo eu que passo a vida a perder-me).

Uma rede de transportes intrincada que se estende por centenas de quilómetros, com comboios, metros e autocarros a horas certas e a passar frequentemente. Se ficar desorientado com os mapas – e a cada pessoa que pedir informações vai receber um mapa – o mais fácil é mesmo seguir o Google Maps que indica tudo: desde o número da saída do metro até à melhor carruagem para sentar para depois fazer o transbordo para outro transporte. Se decidir pedir ajuda a alguém, também há quem finja não nos ouvir e se desvie depois de nos cumprimentar com cara assustada por serem abordados por um turista impertinente. Mas se nos dirigirmos a algum funcionário ele fará o seu melhor, mesmo que seja em japonês, para nos orientar.

Um mar de gente a andar nas ruas e estações, quase sem qualquer regra definida de sentido, mas que conseguem não se chocar, e ser altamente respeitosos para com o outro.

Se de repente parar porque vê alguém em sentido contrário, essa pessoa vai acabar por inclinar a cabeça, pedir desculpa e desviar-se. Mesmo que sejamos nós os transeuntes distraídos.

Ao entrar num autocarro a abarrotar, uma senhora de idade como me viu à espera inclinou a cabeça a dar-me passagem – quando ela era mais velha, e corria o risco de se separar das amigas que tinham entrado primeiro.

Algumas impressões sobre o Japão em poucas palavras – Parte 2

As pessoas são extremamente silenciosas. Em compensação, tudo o resto em redor fala e faz barulho. Das máquinas às lojas, dos transportes às estações, tudo tem som e os avisos são constantes. Mas as pessoas não se ouvem.

Num transporte cheio, é normal as pessoas, crianças ou adultos, estarem todas fixadas no telefone. Também há quem leia, mas é menos frequente. O certo é que não se ouve um único vídeo, uma única música, um único toque de chamada ou de mensagem. Toda a gente tem o telefone em modo silencioso e usa auscultadores. Praticamente ninguém atende uma chamada telefónica dentro de um transporte. Em 5 dias que cá estou, apenas uma vez vi um adolescente a andar pela rua com o telefone a tocar música.

É normal ver crianças mesmo muito novas a ir para a escola nas suas fardas. Seja a pé, de bicicleta ou nos transportes, elas não se intimidam e dão claramente a ideia de se sentirem seguras. E devo dizer que as crianças e jovem são amorosas.

Ninguém fuma em público, nem mesmo nas ruas – há umas pequenas salas de fumo e mesmo na rua já encontrei sítios claramente demarcados específicos para fumar.

Algumas impressões sobre o Japão em poucas palavras – Parte 3

Os japoneses adoram bonecos tanto como adoram comida, nomeadamente guloseimas. Se bem que muito criativos em pastelaria, esta não é necessariamente doce. Temos como exemplo os vários produtos à base de matcha. Por outro lado, não é assim tão frequente encontrar cafés – mas há máquinas com venda de bebidas (água, sumo, café) por todo o lado.

Não é muito correcto – embora aconteça entre os mais jovens – comprar comida ou bebida e caminhar a comer. Os restaurantes são pequenos, e muitas vezes ficamos reduzidos a um pequeno espaço a um balcão. Mas o normal é comer, a um canto, depositar tudo no lixo e seguir.

É raro encontrar um contentor de lixo nas ruas. Face à poluição, a solução foi mesmo fazer com que as pessoas passassem a serem responsáveis pelo seu desperdício e o levassem para casa. Mas claro que em sítios específicos – como os templos ou outros serviços – encontramos contentores de lixo, e sempre com vários compartimentos, para reciclagem. Até na recolha do lixo, eles são limpos – fica tudo muito bem fechado dentro de sacos, o que deixa o lixo com um ar de limpo.

É normal os hotéis (mesmo sem ser os cápsula, onde dormi na primeira noite) terem casas de banho partilhadas e duches partilhados. Onde estou, por exemplo, os duches masculinos são na cave e os das mulheres no piso 4. Mas não temam os mais inibidos, pois é normal não se ver uma única pessoa na casa de banho. Juro que ainda não me deparei com ninguém nos duches. É como se estivesse sozinho no hotel.

Se forem a uma casa de banho pública são também extremamente limpas, mas é frequente não haver sabão, e quase de certeza que nem vai ter papel para limpar as mãos.

E as sanitas… bem, as sanitas merecem toda uma novela. Desde o tampo aquecido aos botões que limpam pela frente e pela trás, ou a água do lavatório que é aproveitada para o autoclismo, ou até mesmo o som que nos dá privacidade (nalguma emergência de evacuação mais sonora), a sorte é que não posso viajar com mala de porão ou levava uma sanita inteligente comigo.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.