25 de Abril de 1974, Quinta-Feira, de Alfredo Cunha, está publicado pela Tinta-da-China. Para celebrar Abril e os 50 anos de democracia, foi lançado um grande álbum de fotografia sobre a Revolução dos Cravos, pela lente de Alfredo Cunha, um livro que vem, adequadamente, em grande formato, com capa dura, num número limitado de exemplares, e que só pode ser adquirido directamente no site da editora. Existe, contudo, lançada em dezembro de 2023, uma edição mais pequena, em formato de bolso.

Com prefácio de Luís Pedro Nunes, e textos originais de Carlos Matos Gomes, Adelino Gomes e Fernando Rosas, assim como intervenções de Vhils sobre imagens icónicas de Cunha (na capa e nos separadores), esta é uma óptima forma de, para aqueles que viveram ou aqueles que apenas conhecem de ouvir falar, relembrar ou revisitar o Dia da Liberdade.

No dia 25 de Abril de 1974 (uma quinta‑feira, tal como voltará a acontecer em 2024), Alfredo Cunha estava em Lisboa e fotografou a revolução nos seus principais cenários, captando imagens icónicas que perduram até hoje associadas ao acontecimento que mudou a História de Portugal.

Para celebrar os 50 anos de democracia decorridos desde o passado 25 de Abril de 1974, Quinta-Feira, que este ano calha novamente a uma quinta-feira, Alfredo Cunha – que na altura tinha apenas 20 anos, em início de carreira – concebeu, a partir das suas imagens, um livro em três partes: «Guerra» — com texto de Carlos Matos Gomes, militar de Abril e da guerra colonial; «Dia 25 de Abril» — com texto de Adelino Gomes, repórter que acompanhou os acontecimentos em Lisboa; «Depois de Abril» — com texto de Fernando Rosas, historiador e protagonista destes anos quentes.

Uma “obra monumental, histórica e teoricamente impossível” que cruza o olhar do fotógrafo que parece ter estado em todo o lado ao mesmo tempo (e que ainda continua a tirar da sua “arca” uma série de fotografias inéditas) com o olhar do repórter, o do militar no terreno, e o do activista na clandestinidade. É sintomático que este livro de pouco texto, em que as imagens falam por si, comece justamente pelas colónias e pela guerra – com fotos do cemitério militar de Bissau, por exemplo, ou dos lugares mais remotos, como a Gorongosa aos mais cosmopolitas, como Lourenço Marques. A preto e branco, cruzam-se fotos de época com fotos contemporâneas. Apresentam-se até registos fotográficos que supostamente nem deveriam existir, pois reportam a factos desmentidos pelo regime. Um livro que nos relembra oportunamente do valor da liberdade, hoje tida como dado adquirido, ao mesmo tempo que parecemos abdicar da nossa própria liberdade, numa distopia que se torna real (para fazer eco das palavras do prefaciador) sempre que abdicamos da nossa privacidade para entidades privadas.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.