Considerando o que tenho lido nos últimos dias em torno da adaptação indevida de João Botelho a partir do romance O Corsário dos Sete Mares, obra que ainda não li, embora tenha lido a Peregrinação, obra que trabalhei para a monografia de licenciatura sob uma perspectiva espiritual, inicio a leitura do mais recente romance da autora, num singelo gesto de apoio.
A acção deste ambicioso e portentoso romance histórico decorre entre 1617 e 1667, sendo esse período de crise de identidade nacional, em que Portugal é governado por Espanha, perspectivado a partir de quatro figuras emblemáticas. A autora escolhe quatro personalidades históricas que estão mais ligadas à literatura do que à História, se bem que noutros tempos, a literatura e a cultura também faziam a História: o poeta proscrito, Brás Garcia Mascarenhas; a professa Violante do Céu; D. Francisco Manuel de Melo; e o Padre António Vieira.
A própria autora escreveu ainda numa dedicatória pessoal que esta é a sua «obra mais trabalhosa, nos moldes das Cortes na Aldeia», de Francisco Rodrigues Lobo. A estrutura formal desse romance sente-se principalmente na forma como se pontua a narrativa com «Diálogos», em que várias personagens dialogam entre si. Este romance histórico pode ainda ser lido na sequência de D. Sebastião e o Vidente.
Em «sintonia com a intriga», a autora escreve ao estilo da época, mas num português que é ainda assim perfeitamente perceptível, com uma estrutura frásica que permite uma leitura fluída, sem peias nem aleijões.
Deana Barroqueiro nasceu nos Estados Unidos da América mas veio para Portugal aos dois anos de idade. Licenciada em Filologia Românica, foi professora de Língua e Literatura Portuguesa e Francesa, e naquela que é já uma vasta carreira como romancista, em que a História é sempre a sua principal musa e protagonista, a autora não se coíbe ainda de visitar escolas e espaços culturais. Mais recentemente, João Botelho adaptou a sua obra O Corsário dos Sete Mares – Fernão Mendes Pinto, a propósito do filme Peregrinação, obra-prima da literatura de viagens que pelos vistos não leu, tendo-se antes socorrido do romance de Deana Barroqueiro como forma de melhor recontar a história do aventureiro e explorador português.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.