Para Acabar de Vez com Eddy Bellegueule, romance de estreia de Édouard Louis, é o terceiro livro do autor publicado entre nós pela Elsinore – depois de História da Violência e Quem Matou o Meu Pai?

Traduzido por António Guerreiro, este é um testemunho audacioso, de grande coragem, que entretece memória e ficção.

Criado no seio de uma família da classe trabalhadora, na Picardia, no interior da França, Eddy destaca-se desde cedo das outras crianças. Eddy nasce no início dos anos 90, e embora ambos os progenitores tenham outros filhos, será ele o primeiro filho dessa união entre um pai «duro», alcoólico, irascível, irremediavelmente desempregado, e uma mãe sofrida, cansada, defensiva.

A sua delicadeza, os seus modos educados, a sua maneira de falar e de se mover evidenciam a diferença do jovem Eddy, mesmo que a família nem sempre o admita abertamente. E essa maneira de ser vai instigar humilhações (tareias, escarradelas, insultos) por parte de colegas de escola, mas também a incompreensão dos pais. Por isso, quando o desejo sexual desponta nele, revela-se num misto de fascínio e inveja pelos colegas, mesmo aqueles que o maltratam.

Para Acabar de Vez com Eddy Bellegueule, dedicado a Didier Eribon toca justamente alguns dos temas explorados por este autor no seu Regresso a Reims. Porque mais importante do que negar a sua diferença ou reprimir a sua homossexualidade, Eddy quer fugir ao meio em que nasceu e cresceu: tudo menos acabar a trabalhar na fábrica de peças de latão da aldeia em que o pai perdeu a saúde, e onde ainda antes do pai trabalharam também o seu avô e o seu bisavô.

Unindo o pendor autobiográfico confessional com a força do romance moderno, em que o autor-narrador nos confessa, em algumas passagens, chorar enquanto as escreve, entretecem-se na tessitura narrativa as vozes, destacadas em itálico, dos seus familiares, nomeadamente da mãe e do pai. A certa altura, o narrador afirma mesmo que terá voltado à aldeia da sua infância e juventude durante 2 dias para recolher informações sobre a sua família. Um romance destemido que ressoa a história de outros jovens que como ele cresceram e terão feito por, entre a intolerância e o desamor, conseguir inventar a sua própria liberdade.

Édouard Louis nasceu em Hallencourt, França, em 1992. Estudou História na Universidade de Picardia e Sociologia na Escola Normal Superior de Paris. Escrito como um depoimento, o seu romance de estreia valeu-lhe o aplauso da crítica e a fama internacional, sendo finalista do Prémio Goncourt para Primeiro Romance.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.