Um livro ideal para ser lido numa tarde de outono sobre uma história de amor no crepúsculo da vida. É uma história breve mas com uma nota de esperança sobre a amizade, o amor e as oportunidades que não são agarradas na altura certa por medo ou convencionalismos.
Em Holt, uma pequena cidade do Colorado (de onde o autor é oriundo, partindo sempre desse espaço e das suas comunidades para os seus livros), Addie Moore surpreende o seu vizinho Louis Waters com uma proposta irreverente: «Estou a falar de passarmos a noite juntos. E de nos deitarmos quentinhos na cama, de fazermos companhia um ao outro. De nos deitarmos e de tu passares lá a noite. As noites custam muito a passar.» (p. 11).
Ambos viúvos, a viver vidas vazias em casas vazias, porque não partilharem a cama visto que é na noite que a solidão mais se sente? Note-se que mesmo com o neto de 6 anos de Addie, é também na noite que ele se ressente da incerteza e da reviravolta que a sua vida levou, sentindo-se abandonado pelos pais.
Escrito numa linguagem clara, concisa, numa prosa muitas vezes puramente descritiva, simples, mas nunca banal, e alternando com diálogos que vão revelando as personagens conforme estas despem a alma nas suas conversas na noite. Uma história de amor na terceira idade, sem lugares-comuns ou lamechices, onde uma comunidade se revolta contra uma relação que é mais de companheirismo do que física: é sintomático que seja essencialmente quando expostos em público que Addie e Louis mais arriscam nas manifestações físicas de afecto, «caminhando ao longo das montras falsas à moda antiga» (p. 62).
Este livro, eleito o melhor do ano por jornais como Boston Globe, Denver Post e St Louis Dispatch, foi o último romance do autor, escrito quando os médicos lhe diagnosticaram uma doença grave, e tendo falecido dias depois de o ter concluído, em Novembro de 2014. Publicado pela Alfaguara, estreia na próxima semana a sua adaptação em filme no canal Netflix, com interpretações de Jane Fonda e Robert Redford.
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