
Neste breve ensaio, publicado pela Gradiva, George Steiner, professor de Literatura Comparada na Universidade de Genebra e depois em Oxford, começa por discutir a importância da literatura face à oralidade, numa sociedade cujos textos fundacionais são, como se sabe, obras que nasceram justamente da lírica, como a Odisseia ou a Ilíada. Daí parte para a falta de tempo para a leitura como uma das principais ameaças à sobrevivência das letras mas, ainda mais do que isso, a importância do silêncio, como um bem tão difícil de se obter nos tempos modernos (é inevitável lembrar-me de Proust fechado no seu quarto forrado a corticite a escrever Em busca do tempo perdido na cama) e que é fundamental à leitura, como já acontecia nos mosteiros da Idade Média, onde os monges se recolhiam nas suas bibliotecas e, apesar da questão da autoria na altura não se colocar como hoje, muitas vezes criavam um segundo texto a partir dos seus comentários ao texto original. Pondera depois sobre o desinteresse das crianças e jovens pelos livros, a partir do exemplo da personagem-criança alter ego de Proust que deveria ser visto como a anormalidade, apesar de ele na altura conseguir escapar às convenções sociais refugiando-se na leitura sem risco de ser repreendido – isto lembra-me também a estranheza com que muitas vezes as pessoas me olhavam por me verem sempre agarrado a um livro sempre que chego a algum lado (como hoje se agarra um telefone), ou o eco das palavras da minha avó que me anunciava cegueira ou loucura como resultado de tanto ler. Até considerar, em jeito de conclusão, a possibilidade de se estar a aproximar a era do fim da literatura, ao jeito de Umberto Eco em Não contem com o fim dos livros, na sua recentíssima conversa com Jean-Claude Carrière, livro também publicado pela Gradiva. No final do livro, inclui-se ainda outro breve texto, intitulado «Esse vício ainda impune», que constitui a resposta de Michel Crépu a George Steiner.
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