Andei literalmente a namorar este livro uns anos, até que nestas festas houve finalmente oportunidade de o agarrar – e com a sorte de estar disponível em duas bibliotecas municipais (Faro e Loulé).
A Sexta Extinção, de Elizabeth Kolbert, publicado pela Elsinore em 2014, é uma leitura recomendada por Yuval Noah Harari, Al Gore, Bill Gates e Barack Obama, entre outras personalidades mundiais. Venceu o Prémio Pulitzer, foi finalista do National Book Critics Award, e é considerado um dos livros de divulgação científica mais relevantes dos últimos anos.
Em registo de reportagem, a autora dá-nos conta das suas andanças pelo mundo, combinando resultados de uma extensa investigação no terreno com a apresentação do trabalho de geólogos, botânicos e biólogos marinhos. Este documento inédito é sobretudo um apelo urgente que apresenta como nos encaminhamos inexoravelmente para uma sexta extinção:
«Estima-se que um terço de todos os corais de recifes, um terço de todos os moluscos de água doce, um terço dos tubarões e raias, um quarto de todos os mamíferos, um quinto de todos os répteis e um sexto de todas as aves estejam a caminhar para o extermínio. As perdas ocorrem por todo o lado: no Pacífico Sul e no Atlântico Norte; no Ártico e no Sahel, nos lagos e nas ilhas, no topo das montanhas e nos vales.» (p. 31)
Nesta era que se pode designar como a do Antropocénico, e entre muitos outros aspectos aqui registados, um dos aspectos mais curiosos e preocupantes é, a meu ver, a forma como o ser humano iniciou um processo de remistura da flora e da fauna, que acelerou com a migração humana nas últimas décadas, e provoca que em algumas partes do mundo as espécies não-nativas suplantem as nativas – muitas vezes, extinguindo-as. Calcula-se, por exemplo, que em 24 horas cerca de 10 mil espécies diferentes sejam transportadas pelo mundo nas águas do lastro dos barcos (p. 249). Isto tem implicações inclusivamente nos organismos patogénicos e nos seus novos hospedeiros (veja-se como o coronavírus rapidamente se espalhou por todo o glope, com a nova estirpe originada no Japão já presente em lugares como a Amazónia).
Nos últimos 500 milhões de anos, a Terra passou por cinco extinções em massa, nas quais a diversidade da vida no planeta se reduziu drástica e subitamente. Atualmente, e pela primeira vez na História, decorre um processo de extinção em massa provocado por uma única espécie, o Homem, e é também o Homem, ou alguns deles que aqui ganham voz, que ainda está a tentar combater o tempo.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.