
Palavras que falam por nós, de Pedro Braga Falcão, parece-me um livro imprescindível a qualquer amante da leitura e das palavras. Sem cair na secura de um dicionário ou de um glossário, o jovem autor (1981), doutorado em Literatura Latina, e professor de Latim, Grego e História das Religiões na Universidade Católica, parte à descoberta das raízes da língua portuguesa e das histórias que as palavras contam, a partir da sua raíz etimológica. Focando-se, naturalmente, no latim, não deixa ainda assim de repescar a origem etimológica das palavras também no grego e no indo-europeu, aproximando-as ainda de outras línguas como o russo ou o germânico, quando tal se justifica. Parece-me um aturado trabalho de pesquisa mas mais louvável é a forma como o livro é escrito e a história das palavras se desdobra. O livro é dividido em dez capítulos e o que o autor faz é aproximar palavras muito diversas e aparentemente diferentes, no sentido que hoje lhes atribuímos, segundo uma espécie de campo semântico: amor e paixão, elogio, desamor, rua, escola e cultura, etc. Desta forma palavras como amor ou patético ou deslumbrar são habilmente aproximadas pelo autor a partir do seu sentido original, muitas vezes com laivos de cultura, que me permitiram por exemplo perceber finalmente a designação de Sinfonia Patética de Tchaikovsky (que afinal tem a ver com algo que provoca emoção e só depois evoluiu para algo digno de pena). E, como última nota, de um livro cuja leitura considero realmente imprescindível reconheço ainda o sentido de humor do autor e a leveza do tom, que nos faz sentir como se estivéssemos a assistir a uma palestra que se desdobra no tempo mas em sentido inverso, levando-nos para trás até aos princípios da nossa língua. (Ah e fiquei também a saber que sofro de nostalgia: a dor que se sente pelo regresso à nossa pátria ou, por vezes, a lugares irremediavelmente perdidos mas que subsitem ainda e apenas na memória, como a infância. Talvez por estar nostálgico esteja a apreciar tanto este livro que me leva à minha outra casa que é a língua portuguesa)
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