O Nascimento dos Deuses é o terceiro e mais recente livro publicado pela Gradiva que integra a colecção concebida e escrita por Luc Ferry.
Quando era criança, só tive uma febre maior que a dos dinossauros: a minha fascinação pela mitologia grega, essa inesgotável fonte de aventuras tão maravilhosas quanto grotescas que, apesar do excesso e do fantástico, procuram explicar o mundo e o universo.
“No início, era o Caos. Uma desordem absoluta sem definição nem individualidade. Uma divindade impessoal. Tudo aí era indistinto, sem forma e sem contorno”.
Mais do que um livro de banda desenhada, este é um magnifico álbum ilustrado, colorido, vivo, com imagens plenas de movimento, que explica, sem meias-palavras, como a partir da união de Geia, a terra, e Úrano, o céu, surgirão os primeiros deuses do panteão grego: os Titãs, os primeiros Ciclopes (Raio, Relâmpago e Trovão) e os Hecatonquiros, seres imortais com uma força sem par que vivem para a guerra. Mesmo quando o macabro parece reinar – com Crono (Saturno) a castrar o pai, Úrano, e depois a devorar os seus filhos, que acabará por regurgitar inteiros, ou Zeus a cometer parricídio –, as imagens do livro são sempre belíssimas e os deuses são representados com traços marcadamente humanos. Porque ao autor interessa sobretudo honrar os valores e sentimentos (amor, amizade, ódio, ira), bem como a simbologia contida nestes mitos explicados visualmente de forma clara e sucinta, sem fugir aos textos fundadores da mitologia clássica, um dos pilares da civilização europeia, que permanece intemporalmente apaixonante.
Esta é uma colecção pensada para jovens, até pela parte final do livro, que contém textos mais informativos e estruturantes de Luc Ferry sobre a teogonia grega, onde não faltam exemplos de como na arte se representou a mitologia, e onde demonstra como a religião e a filosofia derivam da mesma pulsão: a busca de respostas.
Luc Ferry é um autor de referência sobre a mitologia grega, com várias obras (A Sabedoria dos Mitos; 7 Lições para Ser Feliz). Nascido em 1951, é um filósofo e político francês, tendo sido Ministro da Educação em dois governos sucessivos. A Gradiva publicou ainda, o ano passado, nesta colecção, outros dois títulos: Prometeu e a Caixa de Pandora; e Édipo.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.