Carolina Beatriz Ângelo. Um Pequeno Grande Gesto de Coragem, com texto de Carla Maia de Almeida e ilustrações de Delfim Ruas, é mais um título da colecção Grandes Vidas Portuguesas, editada em parceria pela editora Pato Lógico e a Imprensa Nacional, dedicada às histórias de vida de personalidades que se destacaram em diversos domínios da nossa história. Ver artigo
Em vésperas de Natal, perguntei à Clarinha qual era o livro que queria ler (um sonho meu de longa data). Ela escolheu Como o Grinch roubou o Natal, de Dr. Seuss, publicado pela booksmile. Um belíssimo livro de capa dura, onde, rima após rima, como um poema cantado, se desfia a história de como Grinch, com «um coração bem mais pequeno do que o normal», odiava o Natal. Com ilustrações a preto e branco, apenas o vermelho natalício – a condizer com o fato de Pai Natal do Grinch – se vai destacando, ao longo das 64 páginas deste livro, enquanto a Clarinha tapava a boca com horror conforme ouvia a história de como o malvado Grinch, e o seu pobre cão Max, decidiu roubar embrulhos, prendas, fitas, o peru e até a árvore de Natal. Apenas, para descobrir, que talvez o Natal «seja mais do que uma prenda».
Este livro integra o Plano Nacional de Leitura. O autor, Dr. Seuss (1904-1991), é um dos mais queridos autores de livros infantis, traduzido para mais de 30 línguas e com mais de 60 títulos. Já vendeu mais de 650 milhões de obras em todo o mundo. Entre outros prémios, venceu o Pulitzer. Muitas das suas histórias deram origem a filmes, como é o caso do filme Grinch (2000) em que o emblemático monstro verde é interpretado por Jim Carrey.
A Alma Perdida, publicado pela Fábula, é um álbum ilustrado com texto de Olga Tokarczuk, vencedora do Prémio Nobel de Literatura em 2019, e ilustrações da premiada artista polaca Joanna Concejo, distinguido com uma Menção Especial do Bologna Ragazzi Award e Livro do Ano pelo IBBY (2013).
«Se alguém pudesse olhar para nós lá do alto, veria que o mundo está repleto de pessoas que correm apressadas, transpiradas e muito cansadas, e que atrás delas correm, atrasadas, as suas almas perdidas…»
Pelo tema versado e pelas ilustrações sombrias, não se confunda este belíssimo livro de capa dura, com 48 páginas, com uma obra infantil ou um breve conto. O texto é mais breve do que a história contada pelas imagens, que ganham cor perto do final, conforme o próprio Jan recupera o que perdeu algures pelo caminho ao largo da vida.
«Sem alma, vivia até muito bem — dormia, comia, trabalhava, conduzia o automóvel e até jogava ténis. Às vezes, porém, tinha a impressão de que, em seu redor, tudo era plano; parecia-lhe que se deslocava sobre uma folha lisa de papel de um caderno de matemática, folha essa toda ela coberta de quadrados iguaizinhos.»
É também sobre essas folhas quadriculadas de um caderno de matemática que Joanna Concejo assenta as suas ilustrações, até que a cor irrompe pelas páginas do álbum e se apodera de todo o espaço livre, da mesma forma que do tempo parado nos relógios enterrados por Jan vieram a nascer «belas flores, semelhantes a campânulas de várias cores».
A filosofia (espiritualidade?) de Olga Tokarczuk e a melancolia das imagens interligam-se harmoniosamente, com pistas subtis (será a alma de Jan aquela criança que surge aqui e ali?) que irrompem de recantos esquivos de página para página e reclamam a atenção plena do leitor, a sua própria paragem no tempo para se conseguir maravilhar com uma história.
«Se alguém pudesse olhar para nós lá do alto, veria que o mundo está repleto de pessoas que correm apressadas, transpiradas e muito cansadas, e que atrás delas correm, atrasadas, as suas almas perdidas…»
Pelo tema versado e pelas ilustrações sombrias, não se confunda este belíssimo livro de capa dura, com 48 páginas, com uma obra infantil ou um breve conto. O texto é mais breve do que a história contada pelas imagens, que ganham cor perto do final, conforme o próprio Jan recupera o que perdeu algures pelo caminho ao largo da vida.
«Sem alma, vivia até muito bem — dormia, comia, trabalhava, conduzia o automóvel e até jogava ténis. Às vezes, porém, tinha a impressão de que, em seu redor, tudo era plano; parecia-lhe que se deslocava sobre uma folha lisa de papel de um caderno de matemática, folha essa toda ela coberta de quadrados iguaizinhos.»
É também sobre essas folhas quadriculadas de um caderno de matemática que Joanna Concejo assenta as suas ilustrações, até que a cor irrompe pelas páginas do álbum e se apodera de todo o espaço livre, da mesma forma que do tempo parado nos relógios enterrados por Jan vieram a nascer «belas flores, semelhantes a campânulas de várias cores».
A filosofia (espiritualidade?) de Olga Tokarczuk e a melancolia das imagens interligam-se harmoniosamente, com pistas subtis (será a alma de Jan aquela criança que surge aqui e ali?) que irrompem de recantos esquivos de página para página e reclamam a atenção plena do leitor, a sua própria paragem no tempo para se conseguir maravilhar com uma história.
A Menina com os Olhos Ocupados, publicado pela Bertrand Editora, com texto, ilustrações e grafismo de André Carrilho, vencedor do Grande Prémio do World Press Cartoon 2015 e cartunista, ilustrador, animador e caricaturista de reputação internacional, é a sua estreia na literatura infantil com um livro que é, também, uma chamada de atenção aos adultos.
André Carrilho, criador quer de ilustrações tão belíssimas como a menina que pinta um arco-íris com um cravo de Abril quer de caricaturas da actualidade, presenteia agora o universo da literatura infantil com um belíssimo álbum escrito em verso, cheio de cores vibrantes em aguarela a traçar imagens que surgem num turbilhão imaginativo, onde convoca todo um mundo de magia e pequenas maravilhas com vista a impressionar a menina que atravessa as várias páginas do livro sem nunca levantar os olhos do seu precioso ecrã de telefone.
A menina «dorme de olhos abertos, ainda em jejum», tão hipnotizada pelo telefone que não vê a carrinha dos gelados, não dá pelos cães que a perseguem, não vê girafas e elefantes, passa sobre golfinhos que a chamam para a brincadeira, não vê piratas «sujos e maus», nem ursos que a querem abraçar, nem discos voadores que a raptam para poder ver cometas, estrelas ou planetas, nem o astronauta que lhe dá boleia de volta à Terra e a larga num circo.
Enquanto os próprios pais se deixam vergar à vontade dos filhos, tentando adormecê-los pela imagem animada, o autor faz uma elegia à infância que todos nós, miúdos e graúdos, temos vindo a perder à medida que nos deixamos imergir na tecnologia facilitadora e facilitista.
André Carrilho foi galardoado com mais de 30 prémios nacionais e internacionais e participou em exposições coletivas e individuais em Portugal, Espanha, Brasil, França, República Checa, China e EUA. O seu trabalho é publicado no New York Times, The New Yorker, Vanity Fair, Harper’s Magazine e Diário de Notícias, entre outros. Em 2015, foi galardoado com o Grande Prémio do World Press Cartoon.
André Carrilho, criador quer de ilustrações tão belíssimas como a menina que pinta um arco-íris com um cravo de Abril quer de caricaturas da actualidade, presenteia agora o universo da literatura infantil com um belíssimo álbum escrito em verso, cheio de cores vibrantes em aguarela a traçar imagens que surgem num turbilhão imaginativo, onde convoca todo um mundo de magia e pequenas maravilhas com vista a impressionar a menina que atravessa as várias páginas do livro sem nunca levantar os olhos do seu precioso ecrã de telefone.
A menina «dorme de olhos abertos, ainda em jejum», tão hipnotizada pelo telefone que não vê a carrinha dos gelados, não dá pelos cães que a perseguem, não vê girafas e elefantes, passa sobre golfinhos que a chamam para a brincadeira, não vê piratas «sujos e maus», nem ursos que a querem abraçar, nem discos voadores que a raptam para poder ver cometas, estrelas ou planetas, nem o astronauta que lhe dá boleia de volta à Terra e a larga num circo.
Enquanto os próprios pais se deixam vergar à vontade dos filhos, tentando adormecê-los pela imagem animada, o autor faz uma elegia à infância que todos nós, miúdos e graúdos, temos vindo a perder à medida que nos deixamos imergir na tecnologia facilitadora e facilitista.
André Carrilho foi galardoado com mais de 30 prémios nacionais e internacionais e participou em exposições coletivas e individuais em Portugal, Espanha, Brasil, França, República Checa, China e EUA. O seu trabalho é publicado no New York Times, The New Yorker, Vanity Fair, Harper’s Magazine e Diário de Notícias, entre outros. Em 2015, foi galardoado com o Grande Prémio do World Press Cartoon.
O Jaime é uma Sereia, livro de estreia da norte-americana Jessica Love publicado pela Fábula, é uma incursão em temas delicados, complexos e controversos, se nos ativermos aos pormenores, pelo que optamos por ler esta obra a partir de uma perspectiva mais ampla, como uma fulgurante e colorida celebração da individualidade, da aceitação e do amor incondicional, mais particularmente do amor entre uma avó e o seu neto.
Num momento em que ainda há quem continue isolado e distanciado dos seus entes queridos, procuramos destacar uma de entre várias obras possíveis (como, por exemplo, Nuvens na Cabeça, de Elena Val, publicada pela Akiara, aqui apresentada há semanas) que permitem assinalar o Dia dos Avós, no próximo dia 26 de Julho.
Todos os sábados de manhã, o Jaime vai com a avó à natação. E «o Jaime ADORA sereias».
Um dia, quando vê três mulheres vestidas de sereias no metro, tudo muda. O Jaime fica fascinado e, quando chega a casa, só consegue pensar numa coisa: «- Avó, eu também sou uma sereia.»
E, como se sabe, ou como alguns de nós poderão ainda lembrar-se, do querer de criança ao ser vai um pequeno passo dado pela sua gigante imaginação que, conforme crescemos, vai definhando.
O livro é composto por cerca de 20 frases e 40 páginas. É de destacar o trabalho genial da autora, na forma como conta a história sem narrar, julgar ou descrever, limitando-se às falas das personagens, como se o livro fosse uma curta metragem de animação. É particularmente intrigante a forma como no próprio livro, apenas pelas imagens, se cria um momento de suspense quando a avó vê a transfiguração de Jaime, sem sabermos o que ela irá dizer, como irá reagir, pois as ilustrações desta obra contam a sua própria história, como um verdadeiro arco-íris de iridescente imaginação e celebração da vida e da felicidade de podermos ser amados por quem somos. Pois alguns de nós, tal como as sereias, somos seres híbridos ou pertencemos a dois mundos diferentes.
Esta obra venceu o prémio Opera Prima da Feira do Livro Infantil de Bolonha (BolognaRagazzi) em 2019.
Jessica Love cresceu no sul da Califórnia. Estudou Gravura e Ilustração na Universidade da Califórnia. Mais tarde, estudou Teatro na Juilliard School, em Nova Iorque. Vive e trabalha em Brooklyn.
Num momento em que ainda há quem continue isolado e distanciado dos seus entes queridos, procuramos destacar uma de entre várias obras possíveis (como, por exemplo, Nuvens na Cabeça, de Elena Val, publicada pela Akiara, aqui apresentada há semanas) que permitem assinalar o Dia dos Avós, no próximo dia 26 de Julho.
Todos os sábados de manhã, o Jaime vai com a avó à natação. E «o Jaime ADORA sereias».
Um dia, quando vê três mulheres vestidas de sereias no metro, tudo muda. O Jaime fica fascinado e, quando chega a casa, só consegue pensar numa coisa: «- Avó, eu também sou uma sereia.»
E, como se sabe, ou como alguns de nós poderão ainda lembrar-se, do querer de criança ao ser vai um pequeno passo dado pela sua gigante imaginação que, conforme crescemos, vai definhando.
O livro é composto por cerca de 20 frases e 40 páginas. É de destacar o trabalho genial da autora, na forma como conta a história sem narrar, julgar ou descrever, limitando-se às falas das personagens, como se o livro fosse uma curta metragem de animação. É particularmente intrigante a forma como no próprio livro, apenas pelas imagens, se cria um momento de suspense quando a avó vê a transfiguração de Jaime, sem sabermos o que ela irá dizer, como irá reagir, pois as ilustrações desta obra contam a sua própria história, como um verdadeiro arco-íris de iridescente imaginação e celebração da vida e da felicidade de podermos ser amados por quem somos. Pois alguns de nós, tal como as sereias, somos seres híbridos ou pertencemos a dois mundos diferentes.
Esta obra venceu o prémio Opera Prima da Feira do Livro Infantil de Bolonha (BolognaRagazzi) em 2019.
Jessica Love cresceu no sul da Califórnia. Estudou Gravura e Ilustração na Universidade da Califórnia. Mais tarde, estudou Teatro na Juilliard School, em Nova Iorque. Vive e trabalha em Brooklyn.
«Ouvi dizer que a avó tem pássaros na cabeça.
Não é de estranhar que as aves se aproximem dela, pensando que é uma nuvenzinha.»
Assim inicia a história deste belíssimo livro infantil, a ser lido não só pelos pais mas especialmente pelos avós, cuja sinopse lê: «Dizem que não temos os pés bem assentes na terra. Dizem que eu tenho a cabeça nas nuvens e que a avó tem nuvens na cabeça.»
Nuvens na Cabeça, de Elena Val, é um livro poético, onde o jogo de palavras começa logo com as nuvens e os pássaros na cabeça (diz-nos a autora que desenha «também com palavras»), pois enquanto esta menina tem uma imaginação muito fértil – e um leão como amigo imaginário –, a avó vive no seu próprio mundo de fantasia, conforme a sua saúde mental se esvanece como uma nuvem no céu. Este «álbum ilustrado» permite-nos assim abordar temas delicados, como a demência ou o Alzheimer na terceira idade, com crianças de tenra idade, pois a autora dá-nos também a ver o mundo com olhos de criança:
«Explicaram-me que não tem nada a ver com os seus cabelos brancos e fofinhos; simplesmente, às vezes parece que a cabeça dela começa a voar, como quando eu me distraio e trepo aos troncos mais altos e longínquos da imaginação.»
E para nós, crianças leitoras presas em corpos desajeitados de adultos, treparmos com esta menina até aos confins da imaginação basta observar como as ilustrações deste livro se repartem entre imagens «cheias de força e muito sugestivas, que alter¬nam o lápis (para representar o mundo confuso da avó) com o guache colorido (para representar o mundo de fantasia da criança)». Mas além da cor associada ao mundo da menina e dos traços a lápis, isto é, o preto e branco do mundo da avó, outro belíssimo pormenor do livro é o modo como uma paisagem ou cenário urbano, mesmo quando peca pela fealdade, podem ser transfigurados na nossa cabeça para passar a ser vistos como um animal escondido. Escreve-nos Elena Val, autora que nasceu e vive em Barcelona, que lhe interessam «os mundos oníricos como reflexo do comportamento humano» e, nas palavras da menina do livro, podemos escolher ver o fumo como aquilo que ele é ou imaginar que são nuvens.
Este livrinho delicioso, da autora e ilustradora Elena Val, com tradução de Catarina Sacramento, incluído na colecção Akialbum, é mais um título da editora Akiara (já aqui apresentada e cujo catálogo completo pode ser consultado no site da editora, https://akiarabooks.com/pt/editora/, com livros em português, espanhol e catalão).
Não é de estranhar que as aves se aproximem dela, pensando que é uma nuvenzinha.»
Assim inicia a história deste belíssimo livro infantil, a ser lido não só pelos pais mas especialmente pelos avós, cuja sinopse lê: «Dizem que não temos os pés bem assentes na terra. Dizem que eu tenho a cabeça nas nuvens e que a avó tem nuvens na cabeça.»
Nuvens na Cabeça, de Elena Val, é um livro poético, onde o jogo de palavras começa logo com as nuvens e os pássaros na cabeça (diz-nos a autora que desenha «também com palavras»), pois enquanto esta menina tem uma imaginação muito fértil – e um leão como amigo imaginário –, a avó vive no seu próprio mundo de fantasia, conforme a sua saúde mental se esvanece como uma nuvem no céu. Este «álbum ilustrado» permite-nos assim abordar temas delicados, como a demência ou o Alzheimer na terceira idade, com crianças de tenra idade, pois a autora dá-nos também a ver o mundo com olhos de criança:
«Explicaram-me que não tem nada a ver com os seus cabelos brancos e fofinhos; simplesmente, às vezes parece que a cabeça dela começa a voar, como quando eu me distraio e trepo aos troncos mais altos e longínquos da imaginação.»
E para nós, crianças leitoras presas em corpos desajeitados de adultos, treparmos com esta menina até aos confins da imaginação basta observar como as ilustrações deste livro se repartem entre imagens «cheias de força e muito sugestivas, que alter¬nam o lápis (para representar o mundo confuso da avó) com o guache colorido (para representar o mundo de fantasia da criança)». Mas além da cor associada ao mundo da menina e dos traços a lápis, isto é, o preto e branco do mundo da avó, outro belíssimo pormenor do livro é o modo como uma paisagem ou cenário urbano, mesmo quando peca pela fealdade, podem ser transfigurados na nossa cabeça para passar a ser vistos como um animal escondido. Escreve-nos Elena Val, autora que nasceu e vive em Barcelona, que lhe interessam «os mundos oníricos como reflexo do comportamento humano» e, nas palavras da menina do livro, podemos escolher ver o fumo como aquilo que ele é ou imaginar que são nuvens.
Este livrinho delicioso, da autora e ilustradora Elena Val, com tradução de Catarina Sacramento, incluído na colecção Akialbum, é mais um título da editora Akiara (já aqui apresentada e cujo catálogo completo pode ser consultado no site da editora, https://akiarabooks.com/pt/editora/, com livros em português, espanhol e catalão).
1.º Direito é o mais recente livro publicado pela Editora Pato Lógico e uma «produção ligeiramente inspirada» no filme Janela Indiscreta, de Hitchcock, com Grace Kelly. E é já considerado «o melhor policial deste milénio», por Ião Flamingo, e «Graça é a melhor detective sem bigode que eu conheço», segundo Ágata Cristina.
Este livro infantil, de cores quentes, texto de Ricardo Henriques e ilustrações de Nicolau, que conta com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores, conta a história de Graça, uma menina de 8 anos que tem como passatempo uma arte que se parece ter perdido com os tempos das nossas avós: «observação de pessoas».
«O meu pai diz que eu devia parar de coscuvilhar as pessoas do bairro e dedicar-me a vidas mais interessantes (…). Eu já lhe disse que não coscuvilho. Faço people watching.»
Da sua janela, a nossa jovem heroína observa a sua rua: «vejo as vidas em frente como se fossem canais de televisão». E é tão perspicaz a perceber que os tempos antigos dão lugar a novas modas como é astuta ao conhecer as rotinas dos vizinhos: desde a Miss Apertem os Cintos do 1.º Esquerdo à Dona Camomila do 3.º Esquerdo, que bebe chá de camomila com mel, e tem 2 gatas, a Mila e a Mel. Mas no 1.º Direito mora um mistério: um vizinho que acaba de se mudar, «um homem de ar sério, que passa os dias a olhar para o infinito.
De vez em quando o infinito deve olhar de volta e o homem mergulha na sua mesa, a escrevinhar».
Nesta história de suspense e mistério, com uma protagonista que, à semelhança dos leitores mais novos, também está fechada em casa, a olhar o mundo lá fora, Graça não nos deixa parar a leitura enquanto não descobrir que assalto planeia ele e desmantelar essa rede criminosa. Até porque também o leitor tem um pequeno mistério a resolver: descobrir porque é que Graça não pode deixar o seu posto de observação à janela e sair à rua…
O livro 1.º Direito (e que fala também de direitos, inclusive os de autor) encontra-se à venda na loja online do Pato Lógico e chega também às livrarias que se mantêm em funcionamento online, com entrega em casa ou recolha na livraria, pois especialmente nestes tempos de clausura e confinamento os livros continuam a ser janelas para o mundo e ajudam os miúdos e graúdos a viajar sem sair do sofá.
Este livro infantil, de cores quentes, texto de Ricardo Henriques e ilustrações de Nicolau, que conta com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores, conta a história de Graça, uma menina de 8 anos que tem como passatempo uma arte que se parece ter perdido com os tempos das nossas avós: «observação de pessoas».
«O meu pai diz que eu devia parar de coscuvilhar as pessoas do bairro e dedicar-me a vidas mais interessantes (…). Eu já lhe disse que não coscuvilho. Faço people watching.»
Da sua janela, a nossa jovem heroína observa a sua rua: «vejo as vidas em frente como se fossem canais de televisão». E é tão perspicaz a perceber que os tempos antigos dão lugar a novas modas como é astuta ao conhecer as rotinas dos vizinhos: desde a Miss Apertem os Cintos do 1.º Esquerdo à Dona Camomila do 3.º Esquerdo, que bebe chá de camomila com mel, e tem 2 gatas, a Mila e a Mel. Mas no 1.º Direito mora um mistério: um vizinho que acaba de se mudar, «um homem de ar sério, que passa os dias a olhar para o infinito.
De vez em quando o infinito deve olhar de volta e o homem mergulha na sua mesa, a escrevinhar».
Nesta história de suspense e mistério, com uma protagonista que, à semelhança dos leitores mais novos, também está fechada em casa, a olhar o mundo lá fora, Graça não nos deixa parar a leitura enquanto não descobrir que assalto planeia ele e desmantelar essa rede criminosa. Até porque também o leitor tem um pequeno mistério a resolver: descobrir porque é que Graça não pode deixar o seu posto de observação à janela e sair à rua…
O livro 1.º Direito (e que fala também de direitos, inclusive os de autor) encontra-se à venda na loja online do Pato Lógico e chega também às livrarias que se mantêm em funcionamento online, com entrega em casa ou recolha na livraria, pois especialmente nestes tempos de clausura e confinamento os livros continuam a ser janelas para o mundo e ajudam os miúdos e graúdos a viajar sem sair do sofá.
«Chamo-me Sofia. Tenho onze anos e meio, e quando for grande quero ser inútil.»
Esta frase supostamente inocente valeu a esta jovem uma risada geral da turma, a fúria da professora e um encontro com a Directora da escola e os pais na semana seguinte, além de um sermão do pai. Nesse intervalo de tempo, Sofia resolve pôr por palavras escritas o porquê de semelhante desejo. Esta é a história de como o ingénuo desejo de uma criança inocente pode parecer ofensivo aos adultos e de como estes precisam somente de colocar a sua vida em perspectiva através dos olhos e da chamada de atenção de uma criança. Escrito em frases curtas, como convém a uma criança, profundas, cheias de sabedoria e maravilhamento (note-se o nome da personagem, que vem do grego para «sabedoria»), o diário de Sofia conta-nos como a sua vida mudou quando os pais se mudam da cidade para uma pequena aldeia junto do mar, no fim do Sol-posto. Mas esta decisão não trouxe afinal nenhuma da tranquilidade prometida, pois o pai apesar de trabalhar a partir de casa, como profissional liberal, vive sob pressão e impõe essa lógica a uma criança que ganhou os céus infinitos e a praia. Por isso, o pai não lhe perdoa o seu desinteresse pela matemática, e ao gosto de Sofia pela arte contrapõe a necessidade de escolher uma profissão utilitarista num mundo regido pelo consumismo e o imediatismo: «O Papá ouviu a palavra Kandinsky e suspirou. Ouviu guitarra e suspirou. Ouviu minhocas e suspirou ainda mais. Os suspiros não eram os de um poeta diante de uma paisagem, eram de cansaço. Entendi que tinha sido convidada para um monólogo e não para um diálogo.» (p. 33)
As cativantes personagens com que Sofia e os amigos se deparam na praia, como o homem que reúne paus, uma bióloga que estuda estrelas-do-mar, os violinistas celtas, a velhinha que segue a luz nos seus quadros, são «boa gente, mas não servem para esta sociedade em que te calhou viver» (p. 69). E assim esta menina, com um olhar avisado onde a inocência e a ironia se conjugam, vai ensinar aos pais a redescobrirem como são as coisas inúteis que mais sentido fazem.
Este livrinho delicioso, da autoria de Alex Nogués, nascido em Barcelona em 1976, com ilustrações de Bea Enriquez e tradução de Maria João Moreno, é um dos primeiros títulos da colecção AKINARRA, da editora AKIARA, uma colecção de breves romances ilustrados, com capa dura, para meninos e meninas a partir dos 9 anos. Com sede em Barcelona, esta editora foi criada por Inês Castel-Branco, portuguesa que vive em Espanha há quase 20 anos, e voltaremos ainda a esta editora numa próxima semana.
Esta frase supostamente inocente valeu a esta jovem uma risada geral da turma, a fúria da professora e um encontro com a Directora da escola e os pais na semana seguinte, além de um sermão do pai. Nesse intervalo de tempo, Sofia resolve pôr por palavras escritas o porquê de semelhante desejo. Esta é a história de como o ingénuo desejo de uma criança inocente pode parecer ofensivo aos adultos e de como estes precisam somente de colocar a sua vida em perspectiva através dos olhos e da chamada de atenção de uma criança. Escrito em frases curtas, como convém a uma criança, profundas, cheias de sabedoria e maravilhamento (note-se o nome da personagem, que vem do grego para «sabedoria»), o diário de Sofia conta-nos como a sua vida mudou quando os pais se mudam da cidade para uma pequena aldeia junto do mar, no fim do Sol-posto. Mas esta decisão não trouxe afinal nenhuma da tranquilidade prometida, pois o pai apesar de trabalhar a partir de casa, como profissional liberal, vive sob pressão e impõe essa lógica a uma criança que ganhou os céus infinitos e a praia. Por isso, o pai não lhe perdoa o seu desinteresse pela matemática, e ao gosto de Sofia pela arte contrapõe a necessidade de escolher uma profissão utilitarista num mundo regido pelo consumismo e o imediatismo: «O Papá ouviu a palavra Kandinsky e suspirou. Ouviu guitarra e suspirou. Ouviu minhocas e suspirou ainda mais. Os suspiros não eram os de um poeta diante de uma paisagem, eram de cansaço. Entendi que tinha sido convidada para um monólogo e não para um diálogo.» (p. 33)
As cativantes personagens com que Sofia e os amigos se deparam na praia, como o homem que reúne paus, uma bióloga que estuda estrelas-do-mar, os violinistas celtas, a velhinha que segue a luz nos seus quadros, são «boa gente, mas não servem para esta sociedade em que te calhou viver» (p. 69). E assim esta menina, com um olhar avisado onde a inocência e a ironia se conjugam, vai ensinar aos pais a redescobrirem como são as coisas inúteis que mais sentido fazem.
Este livrinho delicioso, da autoria de Alex Nogués, nascido em Barcelona em 1976, com ilustrações de Bea Enriquez e tradução de Maria João Moreno, é um dos primeiros títulos da colecção AKINARRA, da editora AKIARA, uma colecção de breves romances ilustrados, com capa dura, para meninos e meninas a partir dos 9 anos. Com sede em Barcelona, esta editora foi criada por Inês Castel-Branco, portuguesa que vive em Espanha há quase 20 anos, e voltaremos ainda a esta editora numa próxima semana.
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